A idéia do Almanaque tem uma relação bastante estreita com o tempo e com a noção de sucesso. Temos a tendência de considerar tudo o que não foi apresentado ou visto como fracasso ou como perda, muito embora sejam essenciais ao nosso crescimento. Foi daí que surgiu o conceito da transformação. As coisas que fazemos curiosamente se recusam a morrer e normalmente, muitas vezes sob uma nova roupagem. Criar um Almanaque de fracassos, perdas e transformações é, de alguma forma, uma maneira de reconhecer e valorizar momentos importantes da trajetória das pessoas que a sociedade insiste em não consagrar, seja em função de seu imperativo de eficiência, seja por causa de suas formas habituais de recompensa. Pode-se dizer que o Almanaque é uma obra aberta. A interatividade é pensada como uma espécie de inspiração para quem contribui. Dependendo do tipo de perda ou fracasso que alguém apresenta, acionamos mídias que conferem uma perspectiva menos pessimista sobre o que é considerado falha. Resumidamente, não é um trabalho tão sombrio como o título sugere.
Se objetivássemos demais as categorias, constrangeríamos as possibilidades de contribuição e interação com o Almanaque. Trabalhamos o lugar da poesia, da sugestão, da reflexão sobre o aspecto "não-trágico" das perdas e fracassos. Depoimentos de pessoas que vivenciaram experiências dessa natureza e imagens contemplativas que sugerem a reflexão sobre o tema. Não temos a intenção de colocar nossos processos pessoais acima dos demais. Queremos construir algo em conjunto com o público e a primeira forma assumida pelo Almanaque na Casa do Baile se prestará a enxergar o outro.
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